O Mago Louco – Parte 2

Escrito por: Leo Rodrigues

A loucura muitas vezes pode ser confundida com a falta de compreensão dos demais para com os objetivos de cada indivíduo, seria, Ragy Lemar, louco ou apenas um homem em busca de conhecimento e de explorar as possibilidades de seu mundo?

CAPÍTULO 2: Uma noite na taverna

 

   Em uma pequena e destruída vila ao Leste da floresta, residiam alguns pobres coitados, que tinham como única alegria ir à taverna para lembrar dos tempos em que aquele lugar decrépito fora povoado, bonito e muito respeitado em todo o continente. Era conhecida como Vila dos Diamantes, por conta de uma caverna adjacente ao mausoléu da antiga Igreja da Vila, que acreditavam ser uma fonte inesgotável de riqueza.

   Durante a última grande guerra entre os reinos do Norte e Sul, o grande exército sulista invadiu a pequena vila, foi uma batalha desleal e sangrenta. Antes que pudessem se dar conta do que lhes havia atingido, a Vila dos Diamantes fora praticamente extinta.

   Boa parte dos homens e mulheres, que não morreram na batalha, abandonaram aquele maldita vila, buscando um lugar melhor para viver. Naquela caverna, jogaram todos os corpos, vivos ou mortos, de quem se opusera aos sulistas e atearam fogo e uma maldição. Por fim, bloquearam sua entrada, garantindo que o reino do Norte não pudesse mais utilizá-la para financiar a guerra. A vila ganhou um novo nome: Vila das Cinzas.

   Agora, 15 anos depois do final da grande guerra, alguns aventureiros destemidos, ou gananciosos, ou ambos, arriscam-se a ir à vila desbravar a antiga caverna em busca de seus diamantes. Porém, não se sabe de ninguém que tenha saído de lá com mais do que histórias de como são peculiares seus moradores, ou de como a caverna é amaldiçoada. Alguns falam sobre esqueletos, outros sobre espíritos, existe até uma versão que fala sobre vampiros e wendigos. Apesar do histórico, todos concordam que na caverna há tesouros valiosos a serem descobertos e saqueados.

   Voltando à taverna, lá estavam os seis peculiares moradores da Vila das Cinzas. Will Burley, o dono da taverna, e sua filha Dorothy, serviam prestativamente a todos que entravam em seu pequeno estabelecimento. Sentados ao balcão em bancos altos estavam a Madame Puff, dona da estalagem que servia como ponto de apoio para os visitantes da vila, com uma grande caneca de cerveja weizen, com um belo colarinho. Sentado ao seu lado estava o mau encarado Pratt Strongarm, ele sempre se gabava de ser o melhor ferreiro em um raio de quilômetros, que estava se deliciando com uma caneca de cerveja bem lupulada.

   Junto a eles, tomando uma discreta taça de vinho estava o padre Lucius, seus votos lhe impediam de sair daquele lugar, pois ele fora designado para cuidar da Igreja daquela pobre vila, então lá ele deve permanecer até seus últimos dias.

   Em uma mesa, um pouco afastado deles, estava um forasteiro. Bóris era um aventureiro que após uma excursão para a caverna se tornou um bêbado e nunca mais saiu da vila. Tomava um copo de whisky e arquitetava silenciosamente sua próxima excursão, a qual seria sua sétima tentativa.

   Todos estavam sentados na taverna, como faziam todas as noites, quando foram surpreendidos pelo grito desesperado de um homem, não longe dali. Correram para o lado de fora, curiosos e instigados a saber o que estava acontecendo, com exceção de Boris que estava ocupado demais em seus próprios pensamentos.

– O grito veio de dentro da floresta! – afirmou o padre Lucius.

   Todos concordaram olhando fixamente para a entrada da trilha em meio às gigantescas árvores.

– Alguém deveria ir lá ver se está tudo bem. – sugeriu Dorothy com voz trêmula.

– Não há o que temer, minha jovem. – acalmou-a o padre. – Senhor Strongarm, o senhor poderia buscar uma de suas espadas para mim?

   Pratt Strongarm concordou com a cabeça e foi à ferraria buscar uma de suas espadas favoritas, feita com madeira de pau-ferro e cobre, com o fio banhado à prata polida.

– Padre, eu vou com o senhor! – se ofereceu Will Burley, o dono da taverna. – Filha, toma conta de tudo por aqui, e não deixe aquele bêbado sair sem pagar!

   Os dois saíram em direção à floresta densa, o padre carregando a espada com uma das mãos e uma tocha na outra, enquanto Will levava apenas uma tocha para iluminar o caminho, os outros três os seguiam apreensivamente com o olhar.

   A floresta era densa e a trilha estreita o suficiente para que passasse apenas uma pessoa de cada vez, o padre Lucius apressou-se em ir na frente, seguido bem de perto por Will. Foi necessário andar apenas uns 200m para que eles pudessem achar a fonte daquele terrível grito.

– Padre, olha ali! – alertou Will com espanto, apontando para o corpo de um homem estirado ao chão.

  Aproximaram-se com cautela, o homem aparentava ter uns 40 anos ou mais, tinha cabelos e barba castanhos e usava uma túnica azul marinho. Ele estava inconsciente, segurava um cajado partido um pouco acima do meio, com suas partes conectadas por um único pedaço de madeira fino, e estava com 3 arranhões muito próximos ao olho esquerdo, que pareciam ser das garras de algum animal.

   A área em volta do corpo estava uma bagunça, galhos quebrados, árvores perfuradas e cortadas, e a grama pisoteada.

– Parece-me que ele foi atacado por alguma fera. Vamos tirá-lo daqui e levá-lo para a estalagem da Madame Puff, ela poderá conceder cuidados a esses ferimentos. – disse o padre Lucius com convicção.

– Pode deixar que eu carrego ele! Fique atento no caminho e mantenha os olhos abertos pra essa fera não nos pegar de surpresa! – falou apreensivo Will Burley.

   O homem era pesado, e Will teve dificuldade de carregá-lo para a Vila, mas seu ego não o deixou se queixar. Ao voltarem para a taverna, Madame Puff e Pratt Strongarm ainda estavam no lado de fora, curiosos para saber o que teria acontecido.

– Madame Puff… prepare uma cama pra… esse sujeito… ele vai precisar… de cuidados também… vou carregar ele… pra estalagem. – falou Will, ofegante.

– Eu te ajudo a carregar! – se ofereceu Pratt.

– Não precisa! Tá.. tá leve! Tá tranquilo..

– Homens… – disse baixinho Madame Puff revirando os olhos enquanto se apressava para arrumar uma cama para aquele homem desacordado.

Escrito por: Leo Rodrigues


 

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