ContosFantasia Medieval

O Mago Louco – Parte 4

Escrito por: Leo Rodrigues

A loucura muitas vezes pode ser confundida com a falta de compreensão dos demais para com os objetivos de cada indivíduo, seria Ragy Lemar louco ou apenas um homem em busca de conhecimento e de explorar as possibilidades de seu mundo?

CAPÍTULO 4: Preparativos

 

   Antes que tomasse qualquer ação, a porta se abriu lentamente. Parada diante da entrada do quartinho, estava uma mulher alta e corpulenta, com os cabelos ruivos e lisos, com um corte em formato de cuia, destacando suas grandes bochechas rosadas, que davam ao seu rosto um ar de bondade, sua pele era muito clara.

   A mulher trajava um vestido verde longo, lhe cobrindo as curvas rechonchudas, e usava um avental branco, manchado de vermelho.

   – Óia só, ocê acordou! – disse a mulher com ternura. – Como tá se sentindo? – Ela perguntou em um tom de preocupação.

   – Onde estou? – perguntou Ragy ainda confuso.

   – Bem, você deve tá faminto! Tá dormindo tem mais de dia! – falou a moça com a voz aveludada – Venha. Eu preparei um belo de um café da manhã à moda da Madame Puff! – sua voz ficava mais aguda quando falava com empolgação.

   Ragy não pensou muito no que tinha acontecido ou em quem era aquela mulher, ele apenas sabia que ela tinha razão, ele estava faminto. Apesar de desconfiar da situação, suas dúvidas poderiam ser esclarecidas após uma bela refeição.

   Ao se levantar, ele se espreguiçou e sentiu o corpo todo estalando. A dor nas costas ficou mais intensa por um breve momento e depois voltou a ser apenas um pequeno incômodo. Ragy ignorou-a e seguiu aquela mulher de avental até o seu esperado desjejum.

   Ao sair do quarto, notou que estava no segundo andar, o local estava cheio de mofo e manchas de umidade nas paredes e no teto, os sinais de desgaste pelo tempo eram muitos. Descendo as escadas, cada degrau de madeira rangia mais que o anterior.

   Chegando na cozinha, não havia o banquete que ele esperava, mas tinha comida o suficiente para ele matar sua fome. Pães, leite, ovos, uma geleia caseira e uma torta ainda quentinha o esperavam. Sem pensar duas vezes, Ragy Lemar sentou-se à mesa, passou geleia em um pão e começou a comer.

   – Nós ficamos realmente preocupados com você! Ainda bem que nós temos o padre Lucius, ele é tão corajoso… – ela falou quase suspirando. – Mas eu nem me apresentei, sou a Madame Puff, dona dessa estalagem. Por favor, sinta-se à vontade! – Madame Puff tinha um jeito alegre e agitado de falar.

   – Eu sou Ragy Lemar, muito obrigado pela hospitalidade, Madame Puff. Não pretendo ficar aqui por muito tempo, tenho que me apressar, preciso ir até a Vila das Cinzas! – Ele declarou com convicção.

   – Então, pode ficar o quanto quiser, bobinho, você já está na Vila das Cinzas! – Madame Puff levava a mão até a boca para esconder o riso de seu hóspede.

   Ragy quase se engasgou com o gole de leite que estava tomando quando soube que já estava em seu destino final. Seu coração acelerou, estava ansioso, não sabia qual era o próximo passo a tomar agora. Lembrou-se de seu cajado partido e perguntou:

   – Madame Puff, no caminho até aqui eu enfrentei alguns desafios e meu cajado se partiu ao meio, será que eu consigo encontrar alguém nessa vila capaz de consertá-lo para mim?

   – Meu jovem aventureiro, temos aqui o melhor ferreiro num raio de quilômetros!! Termine seu café da manhã que eu levo você até ele. – disse Madame Puff de forma bem solícita. – Quem sabe a gente também não dá sorte de encontrar com Lucius no caminho? – suas bochechas ruborizaram ainda mais e novamente soltou uma risadinha.

   Alguns minutos mais tarde, Ragy Lemar, carregando seu cajado, e Madame Puff, estavam adentrando a taverna de Will Burley. Exatamente como era de se esperar, lá estavam todos os moradores do vilarejo.

   Todos os olhares se voltaram para a figura daquele homem vestido em um manto azul. Foram criadas diversas teorias a respeito do rapaz, do que acontecera com ele na noite em que o padre e Will o encontraram na floresta e o porquê dele estar ali.

   – Ora, ora! Se não é o aventureiro misterioso! – debochou Pratt Strongarm.

   – Pare Pratt! – pediu Madame Puff – Este é Ragy Lemar, ele precisa de seus serviços. O cajado dele foi partido e precisa ser consertado. – ela falou séria, diretamente para o ferreiro.

   – Pois bem! Mas aviso logo que cobro um valor justo, por uma mão de obra tão qualificada! – Pratt sabia que o ferreiro mais próximo dali estava há mais de 3 dias de viagem, logo, ele poderia cobrar o quanto quisesse.

   – Que assim seja. – disse Ragy, tirando de dentro de seu manto um pequeno saco com moedas de ouro e colocando no balcão em frente ao ferreiro, estendendo o cajado em sua direção com a outra mão. – Ao trabalho! Preciso deste cajado novinho o mais rápido possível.

   Assim que o jovem terminou de falar, Pratt Strongarm pegou o cajado e o saco de moedas e apressou-se a ir à ferraria fazer seu trabalho.

   – Me desculpe pela forma com ele fala, meu jovem. Sou o padre Lucius, sente-se aqui ao meu lado. – convidou-o o padre Lucius. – Aceita alguma bebida? De certo que meu amigo Will Burley há de providenciá-la para você. 

 – Eu aceito apenas água, por favor. – imediatamente, Dorothy, filha do taverneiro, serviu-lhe uma caneca com água.

   – Conte-me, o que te traz a um lugar tão longínquo? – perguntou o padre com verdadeira curiosidade.

   – Padre Lucius, eu vim até aqui buscando me provar como um jovem mago, portanto, pretendo encerrar a maldição da caverna dos cristais. – Ragy falava com um brilho nos olhos.

   Todos se entreolharam e o padre logo falou:

   – Isso é maravilhoso! Por anos sofremos com essa maldição. Essa Vila já foi um lugar muito rico e poderoso…

   Mas antes que o padre pudesse continuar a contar a história do lugar, o jovem o interrompeu:

   – Eu estou ciente de toda a história deste local. Peço apenas que me diga, que tipo de maldição há na caverna?

   – Ora, bem, eu… – gaguejou o padre, antes de respirar fundo e prosseguir com a explicação:

– A maldição da caverna transformou as pobres almas que lá pereceram em entidades malignas, que assolam todos que buscam pegar para si as joias e riquezas restantes em seu interior. Ninguém que já entrou na caverna, jamais foi capaz de superar o poder da maldição.

   Houve um momento de silêncio, o mago agora tinha certeza de que sua missão não era fácil, mas ele sabia que estava preparado! Sua convicção era inabalável.

  O silêncio foi quebrado por palmas e uma risada que vinha do fundo da taverna, Ragy nem tinha notado a presença de uma pessoa ali, aquele era Bóris.

   – Hahahahaha! Bravo! Comovente seu discurso, padre! – todos podiam perceber o escárnio em suas palavras. – Garoto, se quiser um conselho: Vá embora! Não existe maldição, não existem joias, não existe nada disso! Essas pessoas são uns pobres coitados, loucos, abandonados aqui por todos, para apodrecerem e entrarem no esquecimento. Pense bem, se existisse algum maldito bem precioso dentro daquela maldita caverna, você acha que esse maldito lugar estaria vazio assim?? Haveria fila para entrar lá!! Todo mundo quer um pedacinho de um tesouro! Mas aqui não há nada! Tudo o que restou depois do fogo do exército do Sul foi prata e carvão! Toda a prata que tinha lá dentro já foi saqueada! Só resta o carvão! Dor, sofrimento e carvão! Se entrar lá, é só o que vai achar.

   – Saia da minha taverna agora, seu bêbado imundo! Anda! – interrompeu Will.

   – Com prazer. Toma aqui o seu pagamento, pode ficar com o troco. – disse Bóris, andando cambaleante em direção à porta, com um punho fortemente cerrado, e lançando para Will uma pequena pepita de esmeralda com a outra mão.

   – Bóris! – Chamou-o o padre Lucius, antes que ele tivesse saído da taverna. – se não há nada de valor lá dentro, por que você ainda está aqui?

   Ele parou, sem se virar para trás, e abriu um pouco o punho fechado deixando escorregar um cordão de prata. Ainda virado de costas, falou:

   – Meu filho estava trabalhando na mina, eu vou recuperar seus ossos e lhe dar um enterro digno. – e saiu batendo a porta atrás de si.

   Todos os presentes na taverna estavam em estado atônito após a saída de Boris. Ragy Lemar sentiu pena daquele homem, sentia que ele estava sofrendo. Mas ficou pensando em seu conselho: “Vá embora! Não existe maldição, não existem joias, não existe nada disso!”.

  – Será que ele tem razão? – ele se perguntava. – Vim de longe, enfrentei criaturas malignas no caminho, para nada? Não, ele não pode estar certo. De qualquer forma, eu preciso entrar lá e ver com meus próprios olhos. Se ele estiver certo, não haverá riscos. Se estiver enganado, vou cumprir minha missão. – sem perceber, o jovem sussurrava baixinho seus pensamentos, mas alto o suficiente para que o padre Lucius pudesse escutá-los.

   – Meu filho, não te preocupes com as palavras deste ébrio. Siga teu caminho! O Deus bom e misericordioso já preparou algo para você, e se tua intuição disseste que tens que enfrentar a obscura caverna, você há de fazê-lo! – aconselhou-lhe o padre com sua voz grossa e suave.

   Ragy apenas balançou a cabeça, concordando. Bebeu toda a água que restava em sua caneca e levantou-se para ir até a ferraria buscar seu cajado com Pratt Strongarm. Porém, ele se lembrou que não sabia como chegar até lá e antes mesmo que pudesse perguntar o caminho a porta se abriu. Lá estava Pratt com o cajado consertado.

   – Aqui está garoto! – falou orgulhoso o ferreiro, erguendo o cajado em direção ao mago. – Novinho em folha! Eu tive que lixar a parte quebrada, pra poder encaixar um pedaço novo de madeira, usei cedro negro igual à original. Daí grudei tudo com musgo da floresta, não vai soltar nunca mais! E pelo valor que você me deu, banhei ele todo em cobre, pra não ter o risco de partir de novo.

   – Devo admitir que estou impressionado. – comentou Ragy Lemar ao analisar seu cajado recém consertado. Ele deu duas batidinhas com a arma no chão e pôde ver a turmalina brilhando, deixando o interior da taverna azulado. – Vejam que coisa linda, a aura que emana da minha pedra preciosa! – disse ele, convidando todos a apreciarem aquela maravilha.

   Os presentes se entreolharam sem entender o que aquilo significava.

   – Do que você está falando? – Perguntou a Madame Puff.

   – Ahh… eu sempre esqueço! Apenas quem possui dons mágicos pode enxergar as auras. – explicou o jovem mago. Ele deu mais uma batidinha com o cajado no chão e caminhou até a saída. – voltarei em breve!

   – Levá-lo-ei até a entrada da caverna. – falou o padre apressando-se em acompanhá-lo.

   Os dois caminharam em passos rápidos e sem trocar nenhuma palavra, até chegarem ao mausoléu da igreja decadente da pequena Vila das Cinzas. Ainda em silêncio, o padre abençoou o jovem e indicou para ele o caminho até a entrada da caverna.

Escrito por: Leo Rodrigues


 

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