ContosFantasia Medieval

O Mago Louco – Parte 6

Escrito por: Leo Rodrigues

A loucura muitas vezes pode ser confundida com a falta de compreensão dos demais para com os objetivos de cada indivíduo, seria Ragy Lemar louco ou apenas um homem em busca de conhecimento e de explorar as possibilidades de seu mundo?

Capítulo 6: Uma fonte de água

 

   Dentro da caverna, a cada passo que Ragy dava, a presença maligna se tornava mais forte. Ele via os vultos passando em sua frente e começou a ouvir vozes, gritos de dor, choros desesperados, via miragens de pessoas pegando fogo correndo em sua volta, desesperadas.

   Os sons do sofrimento daquelas pessoas eram altos demais, ele não conseguia mais escutar a água, não fazia ideia de para onde ir. Sua cabeça doía, as mãos tremiam, sua respiração estava ofegante e sentia o corpo fraquejar.

   Em uma tentativa de fazer os sons cessarem, levou as mãos aos ouvidos e fechou os olhos com força, tentando se concentrar. Mas o som foi ficando cada vez mais alto, ele não sabia por quanto tempo poderia suportar. Mais alto, ele achava que seus ouvidos iriam estourar, mas quando estava no limite da dor, o som parou.

   Ele estava de joelhos, e ao tirar as mãos dos ouvidos, ouviu o silêncio, a corrente de água bem próxima e o som de algumas goteiras.

   Antes de levantar, sentiu alguém tocando em seu ombro. Ao se virar, viu aquela mesma garotinha de antes, olhando fixamente para ele. Seu olhar parecia atravessar sua alma, era profundo, e podia ser definido como um olhar de puro pavor. E ela disse:

   – Eles vão pegar você! – e começou a correr em direção à saída, enquanto desaparecia.

   O mago ainda estava se pondo de pé enquanto tentava entender quem são “eles”, aos quais a menininha se referia, quando avistou um esqueleto andando em sua direção, vindo da mesma direção que a menina correra.

   Não pensou duas vezes, correu em direção ao esqueleto e desferiu um golpe com o cajado, de cima para baixo, gerando uma onda de luz azulada, quebrando o esqueleto em vários pedaços.

   Ele não tinha tempo a perder, precisava chegar à fonte da magia logo. Porém, quando virou-se, viu outros dois esqueletos se aproximando, esses andavam mais rápido e um deles portava consigo um colar prateado, como aquele que Boris mostrara na taverna.

   Ragy acertou em cheio, em um golpe circular da direita para a esquerda, as costelas de um dos esqueletos e pôde ver o raio azul despedaçando ambos os esqueletos. Ele lamentou ter dado aquele golpe, pois sabia que provavelmente destruíra o esqueleto do filho de Bóris. Mas sua lamentação não durou mais que alguns poucos segundos, pois ele escutou uma risada maligna, seguida pela volta dos vultos e gritos de sofrimento.

   O calor estava insuportável, como se as chamas daquelas miragens estivessem aquecendo todo o local. Sua cabeça latejava, e a visão começava a ficar turva, dificultada pelo suor que ardia ao cair nos olhos. Mas isso não o impediu de ver uma horda de esqueletos correndo em sua direção, alguns sem crânio, outro sem braço e sem as pernas, arrastavam-se em sua direção.

   Não havia outra opção, o mago precisava lutar por sua vida. A cada esqueleto que ele derrubava, parecia surgir mais dois. Ele tinha a impressão de que os ossos espalhados se reorganizavam e formavam novos esqueletos, eles não paravam de vir.

   Ragy usava toda sua habilidade em combates marciais, girando seu cajado em todas as direções e proferindo algumas palavras mágicas que lhe permitiam conjurar ondas e raios de poder que afastavam e desmontavam vários esqueletos de uma vez.

   Porém, eles eram incansáveis, e Ragy estava esgotado. Alguns esqueletos agarraram suas pernas. Mas ele foi rápido o suficiente para esmagar seus crânios com uma cajadada. Só que isso não era o suficiente para afastar os outros milhares de esqueletos à sua volta.

   Eles seguraram seu braço direito, o impedindo de usar seu cajado. O mago não tinha mais forças para lutar.

   Caiu de joelhos no chão, soltou seu cajado, sentia sua roupa ser rasgada pelas criaturas, junto com a sua pele. O peso dos ossos em cima dele era demais, caiu deitado com o peito para baixo.

   O som dos gritos de dor estava abafado pelo som dos ossos se batendo. Seus músculos queimavam de exaustão, e podia sentir uma dor aguda em sua mão esquerda, um dos esqueletos atravessou-a com um osso pontiagudo, rasgando a pele do dorso e atravessando a carne até sair pela palma da mão. Gritou.

   Bóris e Felan estavam andando nos primeiros metros da caverna quando ouviram um grito de dor que ecoava pelas paredes do túnel. Os dois sabiam quem era aquele que gritou e começaram a correr.

   – Felan, se acalme! Eu tenho certeza de que aqui não há nenhum perigo. Essa é minha sétima expedição. Seu primo deve ter caído da escada que existe mais adiante. Deixa que eu vou na frente, pra ninguém se machucar! – falou Bóris, tentando acalmar Felan, e demonstrando preocupação.

   – Você não está entendendo! Meu primo não é mago, só de estar sozinho ele está correndo perigo, vamos logo! – falou Felan, muitíssimo preocupado e apressando o passo.

   Ragy pensou em como aquela maldição era poderosa demais até para ele. Não havia mais saída, não lhe restavam forças.  E, como em um “flash”, recordou-se de sua infância e dos momentos marcantes que passara até ali.

   Lembrou-se do lobo e como ninguém acreditou nele, exceto sua mãe; de como ela lhe encorajava a continuar seus treinamentos, enquanto todos lhe diziam que ele não era capaz.

   Recordou das pessoas rindo quando o pequeno Ragy demonstrava suas habilidades mágicas, dizendo que a criança via coisas, e de sua mãe abraçando-o e reconfortando-o, dizendo-lhe: “Não dê ouvidos a eles! Eu posso ver o quão especial e talentoso você é! Continue acreditando em si mesmo! ”.

   E rememorou o dia em que decidiu mostrar para todos que estavam errados, e que se provaria um grande mago, saindo de sua cidade natal e indo em busca da tão falada caverna das cinzas.

   Boris e Felan chegaram correndo ao pequeno poço escavado na pedra e desceram rápido, sem pensar duas vezes. Andaram cerca de 30 metros até avistar Ragy Lemar caído em uma pequena poça d’água, de uns 3cm de altura.

   Ele estava se debatendo, com os olhos bem abertos, as pupilas dilatadas, porém com o olhar vazio e gritava desesperadamente:

– SAIAM!! SAIAM DE CIMA DE MIM! MONSTROS! SAIAM DE MIM! ME DEIXEM EM PAZ! SAIAM DAQUI!!!

   Uma goteira caía diretamente em sua mão esquerda, a única parte de seu corpo que estava parada. E em volta dele, além de seu cajado jogado a não mais que 5 metros de distância, não havia absolutamente nada. Apenas a escuridão gélida da caverna.

Escrito por: Leo Rodrigues


 

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