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A Ruína de Veverell | Conto de Fantasia Medieval

Escrito por: Herica Freitas

A Ruína de Veverell relata a história de Yalanda, uma alta elfa da lua que sobreviveu após um ataque dos servos de Lolth em seu reino. É uma história única sobre o passado de uma personagem em uma campanha de Dungeons and Dragons 5 ed. Indicado para 14 anos ou mais.

O ano é 1.500 CV (Cômputo dos Vales), após tantos acontecimentos importantes para os Reinos Esquecidos, pequenas sociedades se unem ou ganham forças. Em uma floresta próxima ao Vale das Sombras, existe um pequeno reinado dos elfos da lua, comandado por Salah, um alto elfo da lua de aproximadamente 700 anos. Nyoh e Elderon, grandes conselheiros e amigos de Salah, sempre estão ao seu lado servindo a corte, prezando sempre pelo bem maior entre os elfos da lua e protegendo seu reino.

-Mais um dia difícil no trabalho mamãe? – Yalanda, filha de Nyoh pergunta.

-Minha pequena, hoje você não poderá nos acompanhar. O rei Salah precisa tratar de assuntos sobre o exército e violência e não quero você ouvindo sobre isso. – A voz de Nyoh soava doce.

-Então eu vou ficar aqui trancada de novo? – A pequena elfa se emburra.

-Não se preocupe Yalanda, logo a mamãe e o papai estarão de volta para brincar com você. – Um elfo alto, forte, de longos cabelos azuis e olhos amarelados surge sorrindo.

-Papai! – A menina exclama.

O dia era agradável, o sol não estava quente nem frio e as flores da primavera perfumavam toda a cidade de Veverell. Os elfos andavam pelas ruas com largos sorrisos e tratavam uns aos outros com grande cordialidade, muito se ouvia “bom dia”, “como vai?”, “tenha um ótimo dia” e outros cumprimentos calorosos. Yalanda brincava de tecer coroas de flores no jardim de sua casa, enquanto observava os elfos passarem hora ou outra, era pouco mais da hora do almoço quando tudo começou.

-Corram! Se protejam! – Uma voz masculina gritou do fim da rua.

Gritos são ouvidos por todos os lados, os elfos passam correndo pela rua, provavelmente em direção a um abrigo. Yalanda se levanta, anda até o portão e olha para o fim da rua, ela vê um jovem elfo ser atingido por um raio negro, o jovem cai no chão e ao seu lado aparece uma figura bem similar a um elfo, porém ao invés de pele branca ou bronzeada este elfo tem a pele negra e olhos vermelhos.

-Yalanda venha para dentro, precisamos nos proteger. – A elfa governanta da casa diz.

A pequena elfa corre até a porta, entra e abraça a governanta.

-O que está acontecendo? – A menina pergunta com a voz chorosa.

-Estamos sendo atacados, o exército vai nos proteger. Venha Yalanda, nós precisamos ir para o castelo. – A governanta diz.

A jovem elfa havia sido instruída pelos seus pais durante os últimos anos para acatar qualquer ordem da governanta que cuidava da casa. Yalanda vê runas azuis celeste surgirem nos braços da elfa, um círculo aparecendo sob seus pés e a governanta faz sinal para que a pequena venha até ela. 

-Segure-se em mim. – A voz dela soa mais metálica do que o normal.

Tudo se escurece e Yalanda fecha os olhos, a pequena abraça com mais força a governanta, tudo começa a girar ela não sente mais o chão sob seus pés.

-Que bom que estão bem. – a pequena elfa ouve a voz de sua mãe.

-Mamãe. – A elfa corre e a abraça.

-Você está bem? Não te machucaram? – Nyoh confere o rosto da filha.

-Estou bem mamãe, o que está acontecendo? – Ela pergunta preocupada.

-Um exército de elfos sombrios está nos atacando, precisamos manter você em segurança. – Nyoh diz enquanto confere cada parte do corpo da filha.

Nyoh ergue sua cabeça e fala olhando para o fundo da sala, direcionando-se para seu marido. 

-Você sabe que nosso exército não tem força o suficiente para combatê-los, nós vamos morrer se continuarmos neste ritmo. 

-Vocês precisam se salvar meus amigos, fujam e levem a pequena para bem longe daqui. – Salah diz enquanto se aproxima de Yalanda com o semblante preocupado.

-Não vamos abandonar-te vossa majestade. – Nyoh faz reverência.

-Salve pelo menos a vida de sua filha, minha nobre amiga. – Salah olha piedoso para a garota.

Nyoh olha para Elderon que assente com a cabeça, o elfo chega próximo de Yalanda, se ajoelha, segura a pequena elfa pelos ombros e a olha nos olhos. Neste momento os olhos amarelos de Elderon se tornam azuis  celeste, runas aparecem em seus braços e brilham intensamente no mesmo tom.

-Filha olhe para mim, nós precisamos mandar você para um lugar longe daqui. Preciso que seja corajosa e procure abrigo, fique  escondida por três dias, e se a mamãe ou o papai não aparecerem até lá,fuja! – Elderon dá um sorriso para Yalanda, olha para sua esposa e assente com a cabeça.

Os olhos de Nyoh brilham em luz azul, runas aparecem em seus braços assim como em um círculo luminoso sob os pés de Yalanda. Mais uma vez a jovem elfa tem a sensação do chão se desfazer sob seus pés e quando ela abre os olhos não enxerga mais as paredes luxuosas do castelo, mas sim uma linda floresta.

-Isso é muito cruel! – Nyoh chora. – Enfeitiçar a própria filha para ela ficar segura é muito cruel.

-Calma meu amor, ela vai ficar bem. O efeito da magia vai sumir assim que ela fizer tudo que eu ordenei, está tudo bem. Logo nós dois nos juntaremos a ela novamente.

Um grupo de elfos negros encapuzados aparece na sala, círculos negros seguidos de mãos esqueléticas são conjurados abaixo dos pés de Salah e os demais, as mãos esqueléticas agarram os tornozelos dos elfos da lua, vagarosamente sugando a vida deles através de magia negra.

-O que vocês querem? – Nyoh pergunta enquanto sente sua vida deixar-lhe o corpo.

-Acredito que vossa majestade possa responder isso melhor do que nós. – Um dos elfos negros de voz metálica responde.

-Não ouse dirigir sua palavra suja ao rei. – Elderon diz com coragem.

-Tudo bem Elderon, eles têm razão. – Salah diz – Eu estou com algo que pertence à guilda necromântica, eles vieram apenas tomar por direito o que eu os roubei.

-Onde está? – O elfo negro questiona com tom de ameaça na voz.

-Eu devolverei, mas você precisa prometer que deixará meu povo em paz, ninguém além de mim tem culpa dos meus atos. – Salah responde.

-Tudo bem, nos devolva o livro e eu pouparei os seus. – O elfo ri.

Salah com um movimento de suas mãos e a pronúncia de algumas palavras élficas conjura uma pequena esfera luminosa, faz com que ela flutue até o elfo negro encapuzado, a esfera reduz seu brilho até que se revele um livro negro com amarras em couro e runas desenhadas. O elfo sombrio estende a mão para que o livro repouse sobre ela e abre um sorriso, ao soltar as amarras de couro do livro um cheiro de podre invade o ar, gritos pavorosos ecoam pela sala e um sorriso maléfico é visto na boca do elfo.

-Matem todos. – Ele diz enquanto se vira de costas e sai andando com o livro em mãos.

-Você prometeu seu desgraçado! – Salah grita.

-E você acreditou na palavra de um drow? – O elfo pula a janela.

Os demais elfos sombrios que estavam no local avançam com adagas até as gargantas de todos ali presentes, o rei, Nyoh, Elderon e a governanta. A garganta de um a um é dilacerada pelo fio gélido das adagas, o sangue esguicha rapidamente pelo pescoço das vítimas enquanto os elfos negros repetem o mesmo caminho do drow em posse do livro.

Elderon sentindo sua vida esvaindo-se arrasta-se até sua esposa, segura Nyoh pela mão e falece alguns segundos depois. É possível ver um cenário de devastação em todo o reino de Veverell, pilhas de corpos de elfos da lua de todas as idades e sangue por toda a extensão geográfica das ruas.

-Mestre Nailo, o senhor conseguiu o livro? – Uma elfa negra aproxima-se.

-Claro, está subestimando o maior mago necromante que o submundo já viu? Se eu não conseguisse este livro meu nome não seria Irael Nailo. – Ele responde com a mesma voz metálica.

-Senhor Nailo todos estão mortos, não existe nenhum elfo da lua vivo neste lugar. – Outro elfo negro se aproxima vindo da torre real.

-Se acabamos, vamos voltar. – Nailo ordena.

Na torre mais alta do castelo, Nyoh, elfa da lua feiticeira, mãe da pequena Yalanda, segurando a mão de seu amado morto, dava o seu último suspiro enquanto uma lágrima corria em seus olhos ao lembrar-se da feição de sua pequena. 

Em uma floresta muito longe dali, uma pequena elfa de longos cabelos azuis, olhos dourados e pele muito branca, vaga a procura de um abrigo. Ela ouve em seu interior a voz de seu pai, dizendo: “seja corajosa”. O peito da criança consome-se em tristeza e solidão, enquanto, descalça, pisa sobre as folhas macias, seus olhos marejam sem saber ao certo o motivo e, em prantos, ajoelha-se frente a um grande carvalho e adormece cansada da caminhada sem rumo.

-Hey, você está viva? – ouve-se uma voz suave e amigável.

A pequena elfa espreguiça-se abrindo os olhos, encostada no carvalho ela olha para uma figura à sua frente pouco maior do que ela.

-Você está viva. – A figura dá pulos de alegria.

-Quem é você? – a elfa observa curiosa.

-Olá pode me chamar de Sil, qual o seu nome?

-Oi Sil, eu me chamo Yalanda. – ela responde levantando-se.

-Você está perdida? – Sil pergunta.

-Estou só esperando meus pais, eles me disseram para esperar aqui por três dias.

-Legal. Eles vão te buscar em três dias então? – Sil pergunta entusiasmado.

-Sim, eles vão me buscar em três dias. E você, Sil? – Ela olha para o garoto.

Sil parece ser um garoto humano não muito velho, com um gorro ele esconde seus cabelos, seus olhos verdes cintilam, sua boca sempre sorrindo complementa a sua capacidade de ser gentil. Sil não utiliza vestes comuns, como as outras pessoas, todavia, utiliza um traje tecido em couro e folhas, algumas flores detalham suas mangas e um colar de dentes de animal complementa sua aparência selvagem.

-Eu moro aqui. – Ele responde novamente sorrindo.

-E seus pais?

-Eu moro sozinho aqui, a natureza é minha mãe. Você está com fome, Yalanda? – Ele pergunta procurando algo em uma bolsinha de couro.

-Eu. – coloca a mão na barriga. – Estou morrendo de fome.

-Coma esta fruta, ela vai te saciar por um dia inteiro. – Ele oferece.

Yalanda aceita o fruto que não é muito maior do que uma jabuticaba, desconfiada ela o coloca na boca e mastiga. 

-Isso vai me sustentar por um dia inteiro? – Ela pergunta.

-Sim, é um fruto mágico, eu mesmo fiz. Vai te sustentar por um dia inteiro. Você precisa se abrigar, vai chover em breve. – Sil olha para cima.

-Como você sabe, Sil? E como você é capaz de fazer magia? Meus pais me disseram que eu poderia aprender somente quando fizesse 100 anos.

-É uma das vantagens de morar sozinho. – Ele sorri – Posso te levar até minha caverna.

-É segura? – Ela questiona.

-Sim, a mais segura daqui, eu diria. – Ele estende a mão para a garota elfo.

Yalanda repousa a palma de sua mão sobre a mão de Sil, neste momento a garota sente uma brisa fresca com cheiro de natureza, grama cortada, flores e frutos enchem suas narinas. Sil puxa a garota para que ela o acompanhe. Sil parecia localizar-se com clareza pelas árvores e moitas que para Yalanda pareciam todas iguais, o garoto corria e pulava com maestria e parecia até fazer parte da floresta.

Depois de correr por alguns instantes, ambos param frente a uma grande caverna coberta por musgo verde, flores nascem pelas aberturas das pedras lascadas nutridas pelo lodo. A entrada possui um canteiro muito grande de diversas qualidades de flores, cestos de frutos estão servidos para os mais diversos animais e um caminho de folhas e flores recepciona quem chega.

-Que caverna bonita. – Yalanda diz em êxtase.

-Você gostou mesmo? – Sil parece mais animado ainda.

-Sim, é muito bonita. 

-Vamos entrar, a chuva está começando. – Ele diz andando até a entrada.

Ambos entram na caverna e, assim como no exterior, a parte interna é tão bonita quanto. Tudo parece decorado para que se aprecie a mais bela face da natureza. Yalanda senta-se em uma grande folha de bananeira, frente a uma fogueira com brasas apenas, Sil se senta de frente sorrindo. A chuva lá fora aumenta, o barulho da água tocando o solo ecoa pela caverna, ficando cada vez mais agradável.

A pequena elfa olha o interior da caverna enquanto ouve a chuva, ao fundo ela percebe grandes velas ao lado de uma estátua de pedra grande, coincidentemente vestida como Sil. 

-Escuta Sil, quem é aquele? – Ela aponta.

-Aquele é um deus, um deus muito importante para o mundo. Aquele é Silvanus. – Ele responde.

Por um momento a feição de Sil muda de garoto sorridente para sério, ele a olha dentro dos olhos como se pudesse ler algo.

-Você acredita nos deuses? – Ele pergunta.

-Já ouvi falar sobre, mas nunca procurei saber mais. – Ela dá de ombros.

-E se um deles fizesse contato direto com você, por achar o seu coração puro? – Ele arqueia a sobrancelha.

-Se é assim. – Ela sorri fechando os olhos – Eu aceitaria de bom grado.

-Fico feliz em saber disso. Você não está ficando com sono? – Ele sorri novamente.

-Engraçado você falar isso, acho que vou tirar mais um cochilo. – Ela se deita usando as mãos como travesseiro.

Yalanda adormece no calor confortável das brasas, a chuva cai durante toda a noite e a garota mantém-se dormindo até de manhã. Logo cedo a pequena é acordada por dois humanos adultos, ela procura pelo garoto, mas não o encontra.

-Garotinha? – A mulher olha para a menina.

-Oi, quem são vocês? – Yalanda pergunta esfregando os olhos.

-Meu nome é Andrella Helder e este é meu marido Anrod Helder. E você quem é? Onde estão seus pais?

-Eu sou Yalanda. Vocês viram meu amigo Sil? Um menino mais ou menos do meu tamanho, roupas como as daquele moço ali. – Ela aponta para a estátua – Meus pais? Eu não sei.

Yalanda começa a chorar. O casal se entreolha.

-Venha conosco até nossa casa, nós cuidaremos de você. – A mulher estende a mão.

Yalanda ainda chorando toca a mão da mulher, neste momento a mesma brisa de quando ela tocara a mão de Sil aparece, o cheiro é sem dúvida inconfundível. Tanto Andrella quando a elfa sentem, mas Andrella de fato se emociona caindo de joelhos ao chão, em prantos ela abraça a garota agradecendo a Silvanus:

-Obrigada Deus Silvanus, o Deus da natureza e da vida selvagem. Obrigada por trazer nossa menina de volta.

Yalanda sente-se muito segura nos braços daquela mulher, o calor que ela sente é confortável, como a noite que ela passara na caverna, o frescor assemelha-se a chuva calma lá fora e o cheiro remete a ela à bondade vista em Sil, o amigo que fizera noite passada.


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