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Batalha das eras parte 2: A estranha casa de Benson | Conto de Fantasia

Escrito por: Herica Freitas

“Batalha das eras” é um conto dividido em cinco partes, sobre batalhas milenares ao longo dos anos, em defesa do plano terrestre. É uma história independente que se passa em um mundo fictício idealizado pelo autor. Neste conto, a garota Ana, de vinte e poucos anos, faz uma descoberta sobre seu vizinho estranho, o senhor Benson. Esta descoberta leva Ana a viver uma aventura jamais imaginada por ela. Indicado para 14 anos ou mais.

Ana ligou a lanterna de seu aparelho celular e caminhou até uma porta na estante à frente, abrindo-a e vasculhando alguns objetos. Encontrou uma velha lanterna tática ainda com bateria. Ela colocou seu telefone celular, que se tornou inútil para este momento, sobre a estante e caminhou até a cozinha.

-Ótimo, que a luz ilumine este ambiente. O que foi isso? – Ana se virou para um barulho vindo de fora.

Com o coração disparado, seguiu até a porta dos fundos, munida de sua lanterna. Passou a mão em uma capa de chuva pendurada em um velho mancebo na saída de sua cozinha, vestiu-se e então abriu a porta com a intenção de encontrar a fonte dos barulhos vindos do lado de fora de sua casa. 

-Alô, alguém por aí? – ela perguntou, desejando não obter resposta – Alguém?

Ouviu então o barulho de patas sobre seu telhado, como se vários insetos andassem ao mesmo tempo sobre sua casa. A chuva ainda pesada caía no chão de seu quintal , formando grandes poças de água que refletiam a luz trêmula de sua lanterna. Ana direcionou sua luz para a parede adjacente, na esperança de encontrar a criatura ou seja lá o que for que caminhava sobre seu telhado. Naquele momento ela observou uma aranha grande e peluda tentando vencer a chuva para chegar até o telhado do senhor Benson.

-Aaah, o que é isso? – ela gritou, se assustando e pensando como poderiam existir aranhas tão grandes assim – Jamais vi na vida uma aranha maior do que um cão.

Correndo sobre as poças de água em seu quintal, Ana acessou a escadaria que dá passagem para o terraço na esperança de avisar o senhor Benson sobre a criatura que acabara de adentrar seu quintal. Ela correu fatigada pelos dez, doze, dezesseis, vinte e dois e, finalmente, trinta degraus de cimento até o abrigo do telhado de zinco que a protegia da chuva gelada.

Ofegante, tentou gritar ao senhor Benson na esperança de que ele ouvisse sua voz em meio a todo aquele barulho de água e trovoadas ferozes, mas sem sucesso. “O retorno das atividades físicas viria a calhar agora” ela pensou, enquanto procurava um meio de avisar seu não tão nobre vizinho sobre a grande aranha negra e peluda que havia pulado em seu telhado. Olhando ao redor ela procurou algo para subir até a altura da janela para gritar mais de perto e encontrou uma caixa velha de madeira, antes utilizada para guardar algumas tralhas em seu terraço.

Ana posicionou a caixa ao lado da parede de seu terraço, colocou a lanterna tática na boca, segurando-a pelo cabo com os dentes e subiu na caixa. Com um impulso logo estava em cima do muro, olhando para a sacada da janela aberta. Observou ao redor para ver se encontrava a criatura e, ao girar seu pescoço para a esquerda, viu a aranha no telhado de Howard Benson. Com o susto Ana escorregou do muro, caindo do outro lado. Sua lanterna caiu sobre a sacada com o feixe de luz direcionado para a aranha, que se assustou e correu para o terceiro andar da casa. 

Escorregando e despencando rumo ao chão molhado Ana, sentindo um medo tremendo, como se fosse morrer ali, caindo de uma altura de mais de dois metros, em desespero, conseguiu se agarrar na pilastra da sacada da janela, com muito custo. Ela encontrava-se molhada, com os braços arranhados e sangrando sob um pequeno toldo negro, que protegia uma janela aberta de um cômodo escuro. Preocupada com a grande aranha e com medo, Ana logo pegou a lanterna, iluminando o seu redor à procura de uma forma de voltar para o terraço.

-Droga, ai. Isso com certeza vai ficar feio. – ela disse, tocando com o indicador os arranhões em seu braço – Tenho que dar um jeito de dar o fora daqui. – disse sussurrando para si mesma.

Depois de muito analisar as possibilidades de voltar para seu terraço, decidiu que talvez fosse melhor gritar pelo senhor Benson e explicar tudo do que se arriscar, afinal, ela estava em um nível mais baixo que seu terraço e seria quase impossível escalar o muro molhado, além de que, no telhado havia uma grande tarântula asquerosa. Ela então virou-se para a janela escura, iluminando-a com sua lanterna, revelando o interior do cômodo.

A pouca quantidade de luz era suficiente para revelar um cômodo estranho, com alguns móveis velhos e empoeirados. Na tentativa de chamar o senhor Benson e sem resposta, Ana adentrou o cômodo, pousando sobre um grande capacho embolorado. Sua lanterna varreu o lugar revelando uma máquina de costura antiga e enferrujada, um baú de madeira quadrado, uma cadeira de balanço de bambu e tecido e um grande carrinho de roupas esquisitas de diferentes tons de preto, azul e roxo. Uma espada na parede, exposta como um troféu, refletia a luz que passava sobre sua lâmina, chamando a atenção de Ana.

Caminhando em direção à espada, como se estivesse hipnotizada por ela,  a garota cruzou o cômodo, deixando para trás a janela aberta e a chuva que ainda insistia em cair lá fora. Neste momento Ana ouviu um baque logo atrás dela, seguido do mesmo barulho que ela ouvira sobre o telhado. Ao virar-se observou a grande aranha, agora encarando-a com as pinças abrindo e fechando. 

-Mas que merda – ela disse enquanto tateava a parede que agora estava em suas costas – Você certamente não veio pedir informação.

Depois de tatear a parede alguns centímetros acima de sua cabeça, Ana sentiu o metal gelado em seus dedos. Ela retirou a espada do suporte, segurando-a pelo seu cabo de couro. Sentiu uma energia mágica invadir seu peito enquanto empunhava a espada em direção à aranha, que agora caminhava vagarosamente com suas oito patas em direção a ela.

-Se você vier eu vou atacar, estou avisando. – ela disse, desesperada e com a voz trêmula – Não sei se você pode me entender, mas eu estou avisando.

Ao terminar de pronunciar estas palavras Ana viu a aranha aumentando a velocidade em sua direção. A criatura peluda e grande saltou e Ana, em uma tentativa desesperada, empunhou a espada frente a seu peito e fechou os olhos, ouvindo um splesh e sentindo o peso da espada aumentar, o que fez com que sua mão descesse até o chão. Ana abriu os olhos e observou a aranha espetada tendo espasmos em algumas de suas muitas pernas.

-Mas que merda é essa? – Ana disse, direcionando a luz da lanterna para a aranha morta – eu preciso achar o Benson. Senhor Benson, você está em casa? Senhor Benson, sou eu, Ana, você está aí?

Ana gritava enquanto se dirigia para a porta do cômodo. A garota, ainda munida da espada, agora se encontrava em um corredor vazio e escuro. Ela mirou a lanterna para a esquerda, revelando a escada para o primeiro andar. Por um momento pensou em descer e dar o fora, pulando o portão da casa, já que havia matado a ameaça e seu propósito naquela casa havia sido cumprido. Ela mirou a lanterna para a direita e revelaram-se mais uma série de portas e uma escada que parecia levar ao terceiro andar. Seu instinto curioso foi atiçado e ela se pegou dividida entre dar o fora dali ou bisbilhotar a casa do homem mais estranho da sua rua, que, aparentemente, não estava em casa.

-Senhor Benson, estou entrando,desculpe – ela caminhou vagarosamente pela direita – mas eu acabei caindo do meu terraço na casa do senhor. – ela tentou abrir a primeira porta à esquerda – É que eu queria avisar o senhor sobre a aranha gigante que por acaso eu matei naquele outro quarto ali – ela engole seco ao ver que a porta está trancada – eu só quero ir para a minha casa, tirar essa capa de chuva e tomar um bom chá quente.

A segunda porta que ela tentou abrir se mostrou destrancada. Ela encostou a espada na parede ao seu lado e abriu a porta devagar. Nesse momento ela se assustou com um trovão vindo de fora, mas logo se recompôs. Pegou a espada com a mão direita e com a esquerda iluminou o ambiente com sua lanterna. Conseguiu, com a pouca luz que adentrava o ambiente, distinguir alguns móveis. Uma cama bagunçada, uma mesa com alguns papéis e um abajur, uma cadeira e um armário indicavam que aquele cômodo era um quarto. 

Ana entrou sem fazer muito barulho e foi direto à mesa, com sua lanterna iluminando os papéis. Alguns eram recortes de jornais sobre diversas tempestades e cortes de energia da cidade, sobre raios que caíram em postes próximos e reabastecimento de energia. Uma reportagem em especial chamou sua atenção e, sem perceber, leu em voz alta: “Sexta-feira, treze de março de dois mil e vinte, um mito? Superstição? O que aconteceu na tempestade misteriosa que deixou a sexta-feira mais temida por todos no escuro por horas?“. Ela continuou, correndo os olhos até uma frase grifada em marca-texto verde: “Uma grande energia foi registrada pela Companhia de Luz, que não soube explicar sua origem. Mesmo com os geradores desligados para manutenção, a corrente elétrica corria pelos fios. Seria falta de desligamento de equipamentos?”.

-Só existem reportagens do dia treze aqui, esse cara deve ser obcecado por essa data. – ela disse para si mesma,  repousando o recorte de jornal sobre a mesa de novo – Preciso dar o fora daqui. Droga, não falha agora lanterna, eu preciso de você! – ela exclamou, balançando a lanterna que piscava.

A lanterna se apagou e Ana encontrou-se totalmente no escuro. Sentiu sua mão suar no cabo de couro da espada, seu coração bater na garganta, sua boca ficar seca e o medo passar por sua espinha. “Eles vieram para me buscar” ela ouviu em um sussurro e logo virou-se de costas para a mesa, derrubando o abajur. 

-Senhor Benson – perguntou com a voz trêmula – é o senhor?

Ela ouviu um barulho conhecido: patas de aranha sobre o chão de madeira de Benson. Não só uma, mas conseguiu distinguir o som de pelo menos três aranhas se aproximando do quarto. Desesperadamente bateu na lanterna, pressionando o botão de liga/desliga várias vezes até que a lanterna finalmente acendeu, iluminando a porta à sua frente, revelando um par de pés brancos descalços.

Continua…


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